sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Amamentando prematuros

Quando o assunto é amamentação de bebes prematuros, tudo parece muito polemico, pouco uniforme, longe ainda de um consenso.
A falta de um conjunto de normas amplamente aceito pelas diversas áreas do conhecimento e da pratica ligada a esse tema tem gerado a adoção de condutas muitas vezes absolutamente opostas e com isso não se percebe, como acontece quando o tema é a amamentação de bebes a termo, um progresso sensível que permita passos seguintes e aperfeiçoamento em cima de uma base comum.

Chegamos no Brasil a um índice em torno de 10 % de nascimentos prematuros.
Significa dizer que 10% de nossas crianças em algum momento passarão por necessidade de cuidados neonatais mais delicados.

A amamentação, por sua importância indiscutível para nossa espécie, merece atenção especial e especialmente uniformizada.

Segue uma lista de observações que merecem maior atenção por parte de seus cuidadores no sentido de criar uma linha de conduta capaz de facilitar progressos futuros para bebes, mãezinhas, cuidadores e pesquisadores.

1.      Não se pode esperar sucesso na amamentação de bebes nascidos prematuramente se não for oferecido a esses bebes um cuidado respeitoso e ajustado na medida de sua capacidade de recebe-los. Cuidados que podem ser definidos como contingentes. Que falam a mesma língua do bebe. Que não o estressem. Que facilitem sua organização e respeitem seu desenvolvimento. Muitos estudos como o NIDCAP tem estabelecido esses parâmetros e reduzir a carga de estímulos inoportunos da UTI Neo é essencial, cabendo às equipes a responsabilidade de adotar esses procedimentos. É esse bebe que vai sugar o seio materno. É ele que vai se protagonizar as interações bio-psico-sociais responsáveis pelo aleitamento. Descuidar-se dele e trata-lo de forma negligente é optar pelo insucesso e pelo fracasso.

2.      Não se pode esperar sucesso na amamentação de bebes nascidos prematuramente se não for oferecido a suas mães um cuidado respeitoso como parte da rotina. Mãe não é visita. É tempo sem hora. Luz que não se apaga quando sopra o vento e chuva desaba. Furtar a mãe do beneficio da companhia é impor-lhe uma dor que a língua portuguesa não nomina. Viuvez significa a falta do marido. Orfandade, a falta de seus pais. Mas a falta de um filho não tem nome suficientemente explicativo. É essa mãe que vai amamentar. É ela que vai se tornar alvo das ações bio-psico-sociais responsáveis pelo aleitamento. Descuidar-se dela e trata-la de forma negligente é optar pelo insucesso e pelo fracasso.

3.      Não há o menor fundamento na iniciação do primeiro contato com o seio desses bebes no momento em que completam 34 semanas ou peso de 1800 gramas ou mais. O primeiro contato deve ser precoce e facilitador, ainda que não permita sucção eficaz ou lactação suficiente. Privar o bebe desse primeiro contato (e o mais certo seria defini-lo como temprano, no tempo certo, e não como precoce, que é o mesmo que compreende-lo como antes do tempo, o que não é verdade) é no mínimo impor dificuldades adicionais às já pertencentes à sus prematuridade e à da sua mãe.

4.      A avaliação transdisciplinar com interação harmônica das inúmeras praticas e saberes sobre o AM em RNPT é inevitável. A fonoaudiologia precisa ser presença obrigatória, diária e 24 horas nas UTIs neonatais. Salvar a espécie humana não tem preço. Parecer da fono solicitado por pediatra é coisa do passado. O fono deve ter papel de destaque e autonomia dentro de uma Unidade Neonatal. A discussão da conduta deve ser acordada com o pediatra de igual para igual. Isso requer o estabelecimento de um parâmetro previamente discutido, uma base comum, quase um consenso onde não caibam antigos paradigmas que desrespeitam um novo olhar para esse bebe e para sua mãe, em cima do qual serão traçadas as condutas comuns, longe do atraso, da cegueira e do determinismo cego. A fonoaudiologia, quando respeitosa, é como um anjo da amamentação.

5.      É necessário estabelecer um modelo de cuidado que permita a esse bebe, quando distante da mãe, manter seu reflexo de sucção que já existia dentro do útero. O nascimento prematuro cria um hiato no mecanismo de sucção fisiológica e preparatória desses bebes para o peito. Da mesma forma facilita o contato com uma serie de elementos que funcionam como estimulo indecoroso à amamentação: sondas, cânulas, tubos, etc... O uso de uma modalidade de chupeta de tamanho mínimo (muito menor do que as disponíveis no mercado) para ser utilizada com fins de preservação do estimulo da sucção em alguns bebes de muito baixo peso cujo contato materno por inúmeras razões não é possível precisa ser melhor determinado. Faltam estudos acerca da chupeta adequada, da clientela adequada, das indicações adequadas, do tempo possível e da validade desses conceitos como protetores da amamentação e não como seus desfavorecedores ou inimigos.

6.      É necessário criar com a mesma consistência com que se fundamentou a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, uma Iniciativa Hospital Amiga do Bebe Prematuro, onde sua especificidade que não é contemplada pelo IHAC seja valorizada e não lhe sejam impostos conceitos que embora absolutamente aplicáveis ao bebe a termo não lhe dizem respeito. Valores especialmente dedicados a vida e a fisiologia desses bebes devem ser tratados de modo mais profundo. Sua sucção. O uso do colostro. A presença materna. A transferência do leite. O uso racional do copinho. A sua organização. Nada disso é contemplado no IHAC. Mas cada um desses pontos é essencial para este bebe.

7.      O uso do colostro, genericamente conhecido como colostroterapia, precisa ser mais aplicado, e aplicado de modo mais definido. A importância da participação da mãe neste momento e os resultados dessa interação para a otimização da produção de leite e das repercussões de seu uso para a imunologia do bebe são fundamentais. Necessitamos de mais evidencias. Mais experiências. Mais tentativas. Mais gente fazendo. Mais gente estudando. Mais mães sendo beneficiadas. Mais bebes sendo beneficiados.

8.      A capacidade de produção de leite humano pela mãe prematura ainda é uma incógnita para a maior parte dos serviços. Considera-se sua impossibilidade de produção de leite em quantidade suficiente. Sua condição prematura, frágil e indefesa, associada a uma falta de inclusão do cuidado materno na rotina das unidades essencialmente neonatais só agrava esse quadro. As UTIs Neonatais não estão, em sua maioria, preparadas para as mães que são, também em sua maioria visita, e muitas vezes inoportuna e perturbadora. É necessário criar e fortalecer mecanismos que permitam aproveitar e conhecer mais o potencial de produção de leite pela mãe prematura. Um longo caminho há que ser percorrido nessa direção.

Possivelmente existem muitos tópicos ainda a serem abordados para tentarmos sucesso em nossas investidas.

Essa colaboração inicial nem é a ultima palavra.

É só fogo na conversa para que ela não acabe na mesmice e no sono dos injustos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Amamentando

Chegara para ela o grande momento.
Depois de 14 intermináveis dias de afastamento e sofrimento em uma UTI Neonatal que não conta a mãe como parte da cura, depois de terríveis dias de respirador e CPAP, aminas e cefalospirinas, parenterais e cateteres, depois dessa imensa tsunami salvadora, chegava seu filho à Unidade Intermediária apresentando estabilidade clinica e podendo por isso, conforme as normas desumanizadas daquele Hospital, ter um maior contato com a mãe, ainda que limitado.
Nascera o menino prematuramente após inesperado descolamento de placenta, pesando pouco menos de 1800 gramas. Salvo da morte aparente por tubos e bolsas infláveis, foi completamente artificial sua vida durante os primeiros dias na UTI.
Tornou-se uma lista de problemas e um conjunto de condutas. Não teve direito naquelas semanas a um nome, a um lar, ao sono, à noite ou ao silencio.
Não teve sequer considerada a sua dor fisica, conquanto os procedimentos todos lhe foram massacradamente aplicados de forma cruel e impiedosa.
Tratado como uma pecinha clinica, sobreviveu a seus cuidadores descuidados.
Chegara então, também para ele, sem que ele percebesse, o grande momento.
Meu filho! disse a mãe ao vê-lo pela primeira vez na Unidade, livre de tubos e conexões, aparentemente autônomo, dono da própria jornada dali para diante.
Era ainda inicio de plantão.
As mãos entrelaçadas como entrelaça a mão quem reza com fervor, alinhada ao olhar atento e com brilho materno daquela doce adolescente de seus 16 anos, me chamaram atenção.
Aproximei-me.
É fácil a aproximação entre os seres quando um deles tem doses mínimas de boa vontade e o outro é só sorriso. E aquela mãezinha era só sorriso.
Menina ainda e já mãe, metralhou-me com um numero sem fim de perguntas que quase sem fôlego tentava eu responde-las todas e de forma gentil como era o merecido repouso para aqueles corações já tão cansados.
Quando for assim, eu recomendo que a gente esqueça o relógio e peça licença ao profissional para permitir que o homem se manifeste em seu lugar.
E assim sendo, trocamos muitas palavras e sorrisos que a fizeram acreditar nas minhas amizade e boa intenção e me fizeram acreditar nas maravilhas que a minha ciência tem o poder de alcançar e fazer o coração dos homens atingir.
Foi quando o homem no lugar do profissional cedeu, ao olhar para a roupa da mãe, e perceber que da sua blusa escorria leite e não em pouca quantidade ou que não fosse imediatamente percebido por um observador distraído.
Retorna o médico à cena e vê ali a descarga ocitocinica essencial à amamentação que seria tema certo das próximas conversas.
Mãezinha, seu leite esta descendo...exclamei. Ela sorriu. Mais que depressa, e com tato, iniciei ali mesmo naquela hora as primeiras palavras sobre a amamentação, sua importância, o bebe sugar, essas coisas...
Foram mais minutos sem conta e empolgação sem medida.
À proporção que eu falava ela se animava e a animação dela era o combustível de novos caminhos e explicações sempre amorosas e sempre motivantes que eu lhe oferecia.
Explodimos então.
Tudo em volta cheirava ocitocina.
Foi quando, sempre por um desses reflexos inesperados e despercebidos, não sei de onde eu trouxe para ela uma frase que mudaria o rumo da nossa prosa:
Ah, mamãe, eu já ia esquecendo de dizer uma coisa: amamentar é bom demais e você tem tudo pra chegar lá, mas você não precisa conseguir ta?
Ela me olhou, sem sorrir pela primeira vez desde o inicio, e eu continuei
Sabe, mamãe, você e seu bebe estarem até aqui já é a maior prova de amor que vocês irão levar por toda a vida. Ele venceu a morte, o sofrimento, a prematuridade, a distancia dos pais. Você venceu o descolamento, o afastamento de seu filho, a tensão dos familiares, a frieza da equipe de saúde e hoje estão aqui os dois, um com o outro, completamente renascidos e inteiros, né? Você não precisa consegui nada. Você já conseguiu o maior premio que uma mulher pode dar a si própria e a seu filho: você é uma mãe exemplar. Posso aplaudir vocês?
Nessa hora fiz o teatrinho que às vezes faço até nos consultórios públicos para elogiar uma situação que careça de elogio: postei-me em pé e a aplaudi devagarzinho dizendo Parabéns mamãe, parabéns, bebê.
Nessa hora, nossa mãezinha começou a chorar. Aquela fortaleza adolescente encontrou, penso eu, nas minhas palavras, finalmente alguém que não dizia que ela tinha que ser forte. E ela desabou. Chorou como quem traz de volta ao coração presente as imagens e a intensidade da dor acumulada que não encontrara até ali um caminho próprio de escoar.
Imaginem como é difícil para mim me conter numa hora dessas. Tenho que pensar em um pedaço de pizza ou em um filme de Stallone pra não chorar junto.
Pela terceira vez esqueci o tempo.
Abracei aquela moça bonita e dei-lhe um beijo na testa.
Aos poucos seu soluço, acalentado pelo abraço e pelo silencio, passou.
Olhamos para seu filhote na incubadora assim. Ele arecia dormir um sono sereno.
Ele é lindo não é, Doutor?
E foi assim, naquela manhã sem hora, que se deu minha descoberta sobre apoiar o que não se percebe ou se pede para ser apoiado. Apoiar a fragilidade camuflada. A força frágil. A mãe que pede apoio sem deixar transparecer que precisa dele.
Foi assim naquela manhã.
Seu bebe é lindo mamãezinha. Seu bebe é lindo.

A mãe prematura

A mãe prematura é, invariavelmente a mulher que torna-se mãe antes do tempo. Esta antecipação, motivada por desvios da saúde da mãe ou do bebe, gera, também invariavelmente riscos para a mãe e para o filho prematuro que nasce. Tornar-se mãe prematuramente quase sempre traduz momentos dramáticos para a mãe e para o filho. Essa maternidade prematura está intimamente ligada a tratamentos em Unidades de Terapia Intensiva e riscos de vida iminente. É necessário, não bastasse o risco, ter vaga disponível para ambos. Encontrando a vaga, ainda assim é urgentemente preciso ter disponível o tratamento indicado.
A mãe prematura é muitas vezes uma adolescente sozinha e sem experiências. A carga de dor e sofrimento que a sua prematuridade e a de seu filho lhe submetem são como uma intensidade de vida imensamente maior do que a suportada pelas pessoas comuns. É isso. A mãe prematura não é uma pessoa comum. É um ícone de superação que a torna um ser especial, não bastasse a maternidade já lhe conferir esse destaque entre as humanas.
Recuperar-se e acompanhar a recuperação de seu pequeno filho que nada se assemelha ao que ela imaginou ver nascer um dia durante toda a gestação interrompida, é sua grande batalha. Vencer culpas e isolamentos familiares. Vencer a falta de instrução e os mitos sociais (será que um bebe desse tamanho vinga?), vencer as dificuldades de recursos clínicos e a impessoalidade e frieza habituais que as instituições de saúde dispensam a seus usuários. Vencer a distancia da casa ao Hospital. Vencer as dificuldades financeiras para estar com seu filho. Vencer a quebra do vinculo. Vencer o que seria invencível se ela não guardasse no seu coração a força quase maior que a força de uma mãe: a força de uma mãe prematura.
Dizia Caetano que em seus podres poderes, os homens avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Como boçais. Assim procedem as instituições de saúde de nossa cidade, buscando verbas e recursos para equipamentos enquanto desprezam o vinculo materno infantil proporcionado pelo Método Mãe Canguru que permite às mães estarem com seus filhos oferecendo-lhes amor, calor e leite materno. Nenhuma instituição de saude de nossa cidade o aplica, conquanto existam aqui dezenas de leitos de terapia intensiva neonatal.
Sobreviventes dessa boçalidade, as mães prematuras percebem-se felizes a cada gramo de peso conquistada por seu filho. Cada gesto novo. Cada dia a mais livre do oxigênio é comemorado como grande vitória, digna de um grande premio. Não há detalhes para a mãe prematura e para seu filho. Tudo é milagrosamente grande e impressionante. Cada pequena conquista e cada minima queda são comparadas a um Everest ou a um grande abismo. E é necessariamente dolorosa e real sua relação diária com a morte iminente, com a piora constante, com a perda...
Se só mesmo as mães são felizes, como afirma Cazuza, maior felicidade pertence às mães prematuras e a seu exemplo de vida.
Haverá um dia no mundo alguma tarefa mais nobre que a de cuidar, alimentar e fazer crescer com segurança e alegria a vida de um bebe prematuro. Mas isso é matéria dos Anjos e segredo de Deus que não pertence à vida homens nem a seus dias.
À mãe prematura, nossa veneração e nosso carinho nessa data tão dela. 

Escrito para o Dia das Mães/2011   

sábado, 26 de novembro de 2011

Entre as mães da UTI Neonatal do Hospital de Clinicas da UFPR

Eram 3 e meia da tarde do dia 24 de novembro quando entrei naquela sala.
Reunidas, pouco mais de uma dezena de mães, uma delas acompanhada do esposo, aguardavam o inicio da reunião semanal.
A palavra me foi oferecida pela Palmira, Assisente Social que criou e coordena aquele trabalho há mais de 15 anos no HC.
Saudei aquelas belas mulheres e suas histórias impares e inimitaveis de maternidade incomum.
Através de fotos e legendas, aos poucos começamos o encontro conhecendo o filho que queriamos ter.
Um bebe forte, capaz de amar, de ser amado pelos que ama, que fosse delicado e capaz de fazer amigos, um bebe capaz de crescer, enfrentar a dor, superar dificuldades, resistir, e ser enfim um bebe campeão.
As legendas iam mostrando, durante nossa fala, bebes saudáveis e imagens leves...
E num determinado momento aquela sequencia de belas imagens fez uma pausa e foi substituida por fotos de bebes de UTI.
Vitimados por eventos adversos, surgiam em nossa frente envolvidos por tubos, conexões, oxigenios, alarmes e incubadoras.
Longe da familia e do cuidado materno, a sequencia de fotos, sem legendas, descrevia o calvário percorrido por aqueles bebês de UTI.
Sem legendas, uma serie de bebes banhados à dor...
Silencio geral.
As fotos sem legendas remetiam cada uma daquelas mães à história de seus próprios filhos, de suas próprias vidas.
E o inesperado aconteceu.
Como se intencionassem nos dizer algo, estes bebês de UTI continuaram desfilando em nossa frente, mas dessa vez apresentados sob as mesmas legendas que ilustraram aquela primeira serie de bebês graciosos e saudáveis. Legendas que nos remetiam a um bebe forte, capaz de amar, de ser amado pelos que ama, um bebe delicado e capaz de fazer amigos, um bebe capaz de crescer, enfrentar a dor, superar dificuldades, resistir, e ser enfim um bebe campeão.
E a cada imagem legendada desses bebes de UTI, iamos perguntando àquelas mães: algum de nós duvida que esse bebe é um bebe forte? capaz de amar? de ser amado pelos que ama?
Algum de nós discorda que esses bebes sejam delicados? Capazes de fazer amigos? Capazes de crescer, enfrentar a dor, superar dificuldades?
Alguem discorda que nosso bebe seja um bebe campeão?
Diante da concordancia geral, concluimos juntos que o bebe que a gente queria ter era exatamente o mesmo bebe que recebemos.
Escrito em outro idioma, mas o mesmo bebe.
Dono das mesmas caracteristicas, merecedor das mesmas legendas.
E todas concordaram.
Pareciamos estar descobrindo através de nós mesmos, a grandeza de nossos filhos.
Serenidade e leveza tomaram nossos corações.
Nesse momento, oferecemos a cada uma delas papel de carta e canetas coloridas e pedimos para que cada uma delas escrevesse uma carta para seu filho.
Uma carta que seria guardada num lindo envelopinho vermelho e endereçada a seus filhos em letras douradas para que eles recebessem aquele carinho nascido desse encontro.
Silencio.
Respeito.
Calmamente as mães presentes começaram a escrever para eles, seus campeõezinhos...
Indescritiveis e indecifraveis foram aqueles minutos.
Que mágica teria a capacidade de mensurar o volume de amor que circulou ali naquele instante, depositado naquelas páginas em forma de delicada missiva?
Aos poucos as mãezinhas foram se aproximando trazendo suas cartas já escritas que eram envelopadas e endereçadas a seus bebezinhos...
Passados alguns minutos, uma delas permaneceu escrevendo...
Os minutos se seguiam e a carta continuou sendo escrita.
Silencio.
Minutos, minutos e a caneta ainda buscando palavras e as derramando no papel.
Alguns tempo mais e ela se aproximou com 2 cartinhas na mão.
Surpreso, exclamei: são 2? Ah... Hoje mesmo serão entregues a seus filhinhos: João e Davi.
Ela, chorando, respondeu: o Davi não vai receber a dele nunca...
Davi, gemeo de João, viveu por 7 dias, e já não se encontrava entre nós.
Mais uma vez silencio geral.
E eu completei para aquele coração materno: o Davi, amiga, não é porque viveu por 7 dias entre nós que merece menos respeito e menos carinho que nós outros que ainda estamos por aqui. Eu perdi meu pai há quase 20 anos e ainda escrevo pra ele. Davi viveu entre a gente por 20 dias. Davi será sempre o nome de um Gigante.
Sem que pudessemos imaginar ou prever, o inesperado nos surpreendeu.
Perder um filho numa UTI equilibrando o luto pelo que se foi com a esperança pelo que permanece.
Emocionada, a mãe do João e o Davi enxugou suas lágrimas e deixou revelar sua delicadeza e sua força.
Foi um desfecho absolutamente transbordante de amor e vida para aquela reunião de mulheres maravilhosas.
Tomei pela mão as que se aproximaram e me despedi com um beijo.
Foi uma tarde que não se repetirá.
Ao pequeno Davi, à seus queridos pais, a todos os pais e cuidadores presentes naquela tarde inominada, meu coração, meu carinho, minha oração.

domingo, 20 de novembro de 2011

Uma canção pra te fazer sonhar (poema para adormecer um bebê prematurinho)

Descansa, anjo... Eu cuido do teu sono...
Repousa tranqüilo teu coração,
Dorme suave. Nada lá fora
Pode te ameaçar o sono agora,
Descansa, fica leve, sai do chão...

Descansa, anjo, que eu te protejo
Dos olhos da bruxa, do bicho papão,
Descansa que eu te cuido com desvelo,
Descansa, já não há mais pesadelo,
Descansa, eu te dou minha proteção...

Eu cuido pra que nada te aconteça,
Nada apareça de ruim que te incomode:
Nenhum barulho, nenhum ruído,
Nenhuma coisa má, nenhum perigo,
Nada te assuste, nada te acorde...

Dorme tranqüilo. Deixa que eu te cuido:
Nem muito frio, nem muito calor,
Nenhum barulho ou conversa exagerada,
Dorme, eu me entendo com a madrugada,
Dorme, eu me entendo com o Criador...

E nem que para isso eu me desdobre
E até me esqueça eu mesmo de dormir,
E passe a noite te vigiando,
E passe a noite inteira te cuidando,
E a noite passe sem eu sentir...

Por isso descansa, eu cuido do resto:
Da dor, do desconforto, do cansaço...
Nada te preocupa mais... Descansa...
Dorme teu sono, pequena criança,
E o que for preciso deixa que eu faço:

Apago as luzes, reinvento a noite,
E mudo algumas coisas de lugar
Trocando turbilhão por calmaria,
E transformando dor em poesia
Só pra te ver descansar...

E fico imaginando coisas boas
Pra te esperar despertar:
Um toque suave, gentil e apropriado,
Uns truques para a dor sair do teu lado,
E algumas musicas para cantar...

Descansa, eu te preparo essa alegria:
Silencio, ninho, sono, enrolamento,
O colo materno juntinho o tempo inteiro,
Dengo, carinho, um xodozinho, um cheiro,
E um mundo inteiro de acolhimento...

Por isso guarda a calma delicada,
Nada de mal vai te acontecer...
Eu dou um susto na bruxa malvada,
Dorme tranqüilo, anjo, porque nada
Eu vou deixar mais te fazer sofrer...

Descansa, anjo, eu cuido de tudo,
Descansa, anjo, pode deixar,
Descansa que eu te cuido com carinho,
Descansa e guarda bem esse versinho
Que eu preparei pra te fazer sonhar

In Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro - Edição Comentada. 1 Edição/ 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Na pele de Jó. O livro.

Era pra ser um livro, mas é um mergulho.
Um mergulho num oceano de dor e assombro.
Simone Carvalho despe-se aqui de sua graduação como pedagoga e consultora educacional especialista pela PUC/SP e veste a pele da mãe do Gabriel cuja vida lhe escapou das mãos antes de seu nascimento.
Dizendo melhor, a mãe Simone veste-se da pele de Jó para descrever o relato dessa sua experiencia unica e extraordinária.
Jó encarna a dor da perda que não perde a fé.
Deus me deu, Deus me toma...
Segue Jó, sem maldizer sua sina...
Simone encarna a pele de Jó.
Seu relato é quase carnal.
Quase dá pra se sentir o corte da cesariana que lhe mostraria o filho já sem vida para que ela lhe falasse pelo coração: “Deus, faça um milagre... Faça-o chorar... Eu quero ouvir o seu choro...”
Simone mergulha em seu desespero, descrença, duvida, dor e pranto...
Relata a morte.
O corpo.
O sepultamento.
Descreve com poesia crua palavras que ninguem espera ouvir com alegria.
É um mergulho visceral e cru, essencial e sóbrio...
Na pele de Jó retrata a dor vista por dentro...
Não é a pedagoga, é a mãe...
Não é a consultora, é a mulher que chora...
Na pele de Jó é a transcrição mais nitida do sentimento de perda...
Na pele de Jó é o desespero que desnuda a alma que não perde a fé...
Segue Simone sem perder a fé.
Inteira.
Indivisivel.
O pequeno Gabriel é personagem constante de seu relato.
Talvez por ter nome de anjo, sua existencia ainda que sem existir da mesma forma respiratória e cardiovascular que as crianças em geral existem, trouxe para Simone a significação de uma verdade maior.
Gabriel faz Simone, sem perceber, imitar Maria que diz para o outro Gabriel, o anjo:
Eis-me aqui escrava do Senhor. Cumpra-se em mim conforme suas palavras.
Simone, entre perguntas e duvidas, permite-se tornar um instrumento da palavra de Deus e segue.
Uma leitura unica.
Um relato materno banhado a luzes da permissão de Deus.
Na pele de Jó é um livro para sempre.
Que seja nossa senha para que aprendamos também a repetir diante dos anjos de Deus:
Faça-se em mim conforme sua palavra.
Luis Tavares
Campos, RJ.

A mãe prematura e as outras mães de UTI

A mãe prematura e as outras mães de UTI são a mesma pessoa.
São uma mãe só.
Icones da entrega inteira, plena, da incorformação absoluta, do quase apagar-se e do renascer em resiliencia e luz, estas mulheres unicas trazem na alma a capacidade de sublimar desatre em graça e tortuosidade em motivação e alegria...
A vida oferece a elas a oportunidade de seguir por um calvário condutor de sua ascese da dor à luz divina...
Mães de diferentes origens sociais e geograficas, culturais e profissionais, emocionais e familiares mostram através de seus exemplos que a imensidão de suas experiencias e dos sentimentos que as unem tornam despreziveis estas desigualdades e sem importancia alguma essas dessemelhanças...
As mães prematuras e as outras mães de UTI são a mesma mãe extravasadas em palavra, força, pranto, desesperança, inabalável fé e luz...
As mães prematuras e as outras mães de UTI são uma mãe só.

(Texto de abertura do livro "A mãe prematura e as outras mães de UTI, en preparo. Lançamento previsto para junho de 2012)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Visita ao Hospital Sofia Feldman

Terça feira, 8 de dezembro.
Um dia para ser guardado no coração.
Por sugestão da gentil amiga Raquel Tamez vim a BH visitar o Hospital Sofia Feldmam.
Minha intenção era buscar subsidios para a implementação de uma casa que pudesse oferecer apoio às mães que tem seus filhos internados nas UTIs Neonatais de minha cidade.
Ao chegar no Hospital, quem estava justo na entrada era seu Diretor Clinico, que ao ouvir minha interrogação ao vigia da entrada, se apresentou:
Estamos te esperando.
Receber a cordialidade mineira era só o primeiro passo daquela manhã.
Estavam a minha espera a Erika (TO) e a Julia (psicóloga) que apresentaram ali mesmo na sala da Direção as linhas gerais do trabalho ali realizado.
Conheci também a Ellen, que trabalha na gestão de custos, que me apresentou uma planilha muito detalhada dos gastos mensais com a casa. Uma informação imprescindivel para quem pretende se envolver nessa iniciativa.
Enquanto caminhavamos pelas dependencias do Hospital aprendi informações essenciais:
1. O Hospital tem algo em torno de 20 anos de vida. É um pouco afastado do centrão de BH, mas nasceu ali por conta de um terreno doado pela propria comunidade para sua construção.
2. É um Hospital de direito privado que funciona exclusivamente com financiamento do SUS.
3. Desde a afirmação de seu Diretor na sua sala uma verdade é percebida naquele lugar: o lugar da mãe é ao lado de seu filho. O conceito de mãe acompanhante existe desde a criação do Hospital.
4. Tres iniciativas me chamaram a atenção: A Casa das Sofias, a Casa das Gestantes Zilda Arns e o Programa de Internação Domiciliar.
5. A Casa das Gestantes abriga gestantes de risco que precisam controle fino sem necessidade de internação, individualizando o cuidado e desocupando leitos hospitalares.
6. O Programa de Internação Domiciliar abriga diades mãe-bebê. Bebês estaveis recebem cuidado materno. As competencias maternas são exercidas, aprendidas e treinadas exaustivamente durante esses dias com suporte profissional competente. Idade gestacional corrigida de 34 semanas e peso minimo de 1500g são criterios de seleção para transferencia dos bebês da UTI/UI para o PID.
7. A Casa das Sofias cuida de mães com filhos em UTI. Não estão internadas. Convivem em torno de 20 mães que dividem tarefas da casa, decidem regras de convivencia e se apoiam. Conversei por alguns minutos com elas. É visivel a percepção do apoio que se emprestam. Há sessões de cinema, passeios, salão de beleza, as mães ajudam na preparação da comida e da arrumação da casa, lavam suas roupas, tem reuniões com psicólogos, com a direção da casa, com convidados para discutir assuntos de interese comum, saem para passeios no parque, no shopping... Não existe uma rotina "hospitalar" na casa. Um cuidador que não é da area da saude é o responsavel pela organização diária. Não há sinais hospitalares no ambiente. É uma casa de mães apoiadas entre si e por uma organização acolhedora.
8. O Hospital oferece a oportunidade de partos natural, na água, realizados em ambiente amplo, arejado e em presença dos familiares da gestante. Não há episiotomia. Os partos são acompanhados por enfermeiras obstetrizes. É opção da mulher o parto de cocoras, na agua, com familiares, sem uso de farmacologia para a dor... A medicalização é minima. A presença do pai é permitida já desde o pre-parto. Tudo feito de forma muito pioneira, audaciosa e corajosa.
9. O Hospital Sofia Feldman é um Hospital Amigo da Criança.
10. Visitei uma academia dentro do Hospital onde há aulas de ioga e seções de ginástica para funcionarios de plantão.
11. O Hospital oferece cursos regulares a profissionais. Há uma video-biblioteca muito organizada.
12. Um detalhe importante: almocei com a Julia e a Erika. Um refeitório unico servindo a mesma comida na mesma bandeija numa mesma fila para os medicos, Enfermeiros, Tecnicos, demais profiionais, academicos, pacientes, funcionarios e acompanhantes, numa grande celula unica mostrando que todos os homens nascem iguais perante a lei e quando recebem tratamentos iguais isso não os diminui mas dignifica sua existencia.

O Hospital Sofia Feldman é um hospital temático.
Tudo ali gira em torno do homem, do cuidado e da atenção.
Problemas?
Muitos.
Mas trata-se de um Hospital que funciona com clientela do SUS prestando serviço de excelencia compativel com as melhores instituições do pais.
A história do bairro onde o Hospital está tem mudado muito nos ultimos anos graças ao exemplo de humanização verdadeira e singela desta casa.
Amigas Erika e Julia.
Querido Diretor.
Queridas mães da Casa das Sofias.
Que Deus esteja com voces iluminando seus dias.
Que as necessidADES e enfrentamento nascidos dessa ampliação de assistencia instituida por esta casa seja manejada com a mesma coragem e com a mesma audacia que seguramente a trouxeram ate aqui.
O Hospital Sofia Feldman é um SUS que deu certo.


Luis Tavares.

domingo, 6 de novembro de 2011

Por que além da UTI?

Porque há vida além da UTI.
Porque a UTI não deixa tempo para o profissional abraçar a mãe, o pai.
Porque além da UTI mora uma familia em panico.
Além da UTI o irmão do bebê internado chora.
Além da UTI há desespero e esse desespero precisa ser abraçado, acolhido, cuidado.
Além da UTI não há dopaminas, bilirrubinas, ultrassonografias e ecocardiogramas...
Além da UTI há saudade, culpa, medo, desassistencia, insonia, vontade de parar o tempo...
Além da UTI é a semente que germina no coração da mãe de UTI.
E é por isso que estamos aqui.
Para entende-la.
Para acolhe-la.
Para ajuda-la.
Para dividir com ela seu coração sozinho.
Para beber com ela goles de esperança.
Para sorrir com ganhos de peso.
Para cuidar dela quando a infecçãqo piorar.
Porque há vida aqui, além da UTI.
E vida em abundancia.
Que Deus esteja conosco.

sábado, 5 de novembro de 2011

Por uma Unidade Neonatal Amiga do Bebê Prematuro

As Unidades Neonatais são o destino indiscutivel do bebe nascido prematuramente em condições de instabilidade clinica.
O grande desafio da neonatologia é desenvolver ações terapeuticas relacionadas com a recuperação clinica do bebê em coexistencia com um atendimento respeitoso para com esse bebê, levando em conta, além da recuperação clinica, a presevação do equilibrio de seu desenvolvimento neuropsicomotor.
Quando em 1990 a UNICEF estabeleceu para o mundo as bases para o funcionamento de um hospital que por suas caracteristicas diferenciadas seria conhecido como Hospital Amigo da Criança, ainda que com essa iniciativa permitisse um avanço incalculável da proteção dessa infancia, não contemplou nessa iniciativa o nascimento prematuro e suas inumeras consequencias para o bebe, sua mãe, sua familia, seus cuidadores e toda sociedade.
São quase quinze milhões de nascimentos prematuros por ano no mundo.
No Brasil o numero de nascimentos prematuros cresce a cada ano, alcançando o indice de aproximadamente 10% dos nascidos vivos em nosso pais.
Pensando nesse pequeno continente de pequenos recem nascidos dentro de nosso grande país, entendemos a necessidade de as instituições cuidadoras estabelecerem parametros protetivos de cuidado, de modo a poderem ser consideradas como Unidades Neonatais Amigas do Bebê Prematuro.
Eis os 12 passos propostos para essa titulação;

1. As Unidades Neonatais devem possuir norma escrita envolvendo o cuidado do neonato voltado para seu desenvolvimento e centrado na familia, permitindo o vinculo e o cuidado harmonioso do bebê.
2. As Unidades Neonatais devem estar localizadas em areas de acesso facilitado à puerpera e à sua familia.
3. A mãe e o bebê passarão a ser considerados um elo indivisivel, devendo por isso ser garandida a permanencia materna ao lado do bebê pelo periodo em que durar a internação e por 24 horas diarias ininterruptas caso isso seja desejo da mãe.
4. Os cuidadores deverão necessariamente ter conhecimentos basicos  acerca do desenvolvimento neuropsicomotor dos recem-nascidos, o que permitirá a modulação do cuidado e a individualização do tratamento oferecid.
5. O volume do som da Unidade deverá ser respeitoso para com os bebês ali assistidos, procurando não ultrapassar os limites da tolerancia harmonica com a organização desses bebês. A voz humana será utilizada de maneira sutil e responsavel, devendo fazer parte de toda a equipe a consciencia da importancia para a saude do bebê da preservação desses limites.
6. A luz na Unidade Neonatal deverá permitir o estabelecimento de periodos de redução de lumnosidade geral, permitindo a diferenciação da iluminação por leito, no molde das iluminações de cortesia, facilitando os periodos de sono e vigilia.
7. A dor na Unidade Neonatal deverá ser reconhecida como meta de cuidado. Esse reconhecimento levará à adoção de medidas preventivas de seus efeitos. Metodologias não medicamentosas de proteção da dor deverão ser sistematicamente implementadas. Esta rotina, por sua importancia protetiva do bem estar do bebê, deverá estar registrada em protocolos de funcionamento da Unidade e ser respeitada por toda a equipe.
8. A manipulação dos bebês cuidados na Unidade deverá obedecer critérios de necessidade real, prioridade, devendo ser executada em bloco e sempre permitindo a reorganização do bebe antes de cada nova intervenção. A prevenção do stress deverá assumir carater prioritário.
9. A Metodologia Mãe Canguru deverá ser adotada em todos os seus rigores, permitindo o cuidado harmonico e respeitoso da diade mãe-bebê e de seu entorno.
10. Nenhum custo deverá ser considerado excessivo quando sua finalidade for o cuidado do bebê e de sua familia. Iniciativas de apoio à presença materna e de prevenção de sua dor deverão ser estimuladas e instituidas. A espécie humana tem o dever intransferível de cuidar de si mesma.
11. A Unidade Neonatal deverá vivenciar de modo ampliado a transdisciplinariedade, devendo aplicar todos os seus esforços na construção de uma equipe multiprofissional de funcionamento harmonico, com equidade entre os profissionais e onde as condutas das diversas especialidade encontrem um fluxo de harmonia e convivencia construtiva e positiva, substituindo pareceres por uma multivisão cooperativa e visando o mesmo fim.
12. A amamentação de bebês prematuros deverá respeitar as capacidades maternas e as habilidades do bebê. Deverá recusar a imposição de parametros impostos que não levam em conta a prontidão materna e a capacidade de aprendizado de sucção do bebê.

É uma ideia.
É um desejo.
Um sonho.
Uma necessidade.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro – Edição Comentada

O Livro:

Lançada em 2009 durante as comemorações brasileiras dos 30 anos do Método Mãe Canguru, a Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro é formada de 12 artigos que buscam fazer uma leitura ampliada do bebê nascido prematuramente, afirmando a necessidade de um apoio social à essa grave intercorrência que segundo dados da OMS acomete mais de 13 milhões de nascimentos por ano.
O seu lançamento revelou grande aceitação por parte dos profissionais e uma unissonoridade em relação a esses direitos humanos inegociáveis aplicados ao nascimento prematuro.
São 12 artigos que passam pelo nascimento respeitoso, chegam ao aleitamento materno passando pela tecnologia respeitosa com o equilíbrio do bebê e tocam a família e a importância de seu envolvimento nesse cuidado.
Ao perceber a necessidade de aprofundamento de cada um desses 12 artigos, convidamos profissionais das mais diversas áreas da atividade do cuidado e pais prematuros que ofereceram sua contribuição em forma de relatos, possibilitando uma experimentação da vivencia prematura o mais ampliada possível, do cuidador ao entorno do ser que é cuidado, desopacificando a visão segmentar e meramente clinica, bioquímica e farmacológica com que aprendemos a lidar com a prematuridade.
Nasceu então a edição comentada.
12 artigos escritos em 19 linguas: português, inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, russo, árabe, hebraico, chinês, japonês, kikongo, um idioma índio brasileiro (macro-je, falado pela tribo carajá), indi, panjabi, tailandês, húngaro, dinamarquês e turco, permeados com fotos, desenhos, páginas coloridas delicadamente ilustradas, poemas, belíssimos comentários das mãos de mais de 40 colaboradores entre profissionais, gestores, especialistas em direito e comoventes depoimentos maternos, acondicionados em um volume impresso em em papel 90 g no formato  21x21cm, com dupla capa (supremo 250 g) ,num total de 188 páginas, esta é a Declaração Comentada.
Da Colômbia participa o Dr Hector Martinez, criador do Método Mãe Canguru. Da Argentina, a Presidente da APAPREM, Andrea Dolce. Amigos de Portugal, Espanha, Estados Unidos, Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina... Tem-se a impressão de que o mundo inteiro se une em nome da causa prematura, da ampliação do cuidado, da valorização da presença materna, da contingencia, da gentileza, do respeito. 
Esperamos contribuir para o fortalecimento da consciência da necessidade de ampliação do envolvimento da família no cuidado com o bebe, da sensibilização do profissional para a leitura do bebê além de sua bioquímica e do cuidado para além da farmacologia.
Seja bemvindo a essa Declaração Comentada.

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Preço: 50 reais + frete

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Exigimos respeito

 

Somos, segundo a OMS, mais de 13 milhões a cada ano.
Isso é alguma coisa perto de 10% de todos os bebês nascidos vivos no planeta.
Desses 13 milhões, 1 milhão de nós não consegue sobreviver e morre por condições inadequadas de atendimento.
A maioria de nós chega ao mundo pelos paises de economia frágil: Asia e Africa.
Ali também é que a maior parte de nós não sobrevive.
Aqui no Brasil temos crescido em numero de nascimentos a cada ano.
Somos pequeno um país dentro de um país.
Um pequeno país de exilados de suas familias.
Confinado a casas de acrilico e a um ambiente exageradamente tratador.
Ao lado das aminas salvadoras, recebemos excessivos luz, som, dor, manipulação, falta de sono, privação do amor, do calor e do leite materno...
Sabemos que esse exilio cruel é decretado em nome de nossa cura.
E temos consciencia de que o esforço das equipes de saude para garantir nossa sobrevivencia tem sido surpreendente e essencial.
é cada vez mais certa a certeza de que retornamos para o colo de nossas mães e para o seio de nossas familia sobrevivendo a pressagios de morte certa e às previsões mais pessimistas...
Somos imensamente gratos à ciencia que tem nos permitido estar aqui, salvos do caos gerado por um nascimento fora de época, antes do que era para ser...
Mas hoje queremos nesse manifesto juntar nossos frageis corações e nossa delicada saude num esforço ultra humano e dizer para o mundo que nos cuida, nos cataloga, nos cochraneia e nos transforma em teses de mestrado, doutorado, artigos, livros, entrevistas e reportagens pelo mundo afora:
Exigimos respeito.
Nossas mães, enfraquecidas, não tem permissão para estar em nossa companhia pelo tempo inteiros que ambos precisamos.
Muitas das UTIS para onde nos confinam não tem sequer espaço para recebe-las.
Chamam de UTI Neonatal como se nós, neonatos, fossemos independentes de nossas mães e como se nossas vidas não pecisasse da delas para crescer com harmonia e integraldade.
E sequer destinam recursos para garantir vagas para muitos de nós nessas UTIs. Muitas mrtes correm por socorro insuficiente. Por condição tecnica insuficiente. Por pessoal insuficiente. Somos assim, por esse descaso oficial, tratados como supérfluo, como sobra. Sobreviver é lucro, não essencial. Como se a vitória de uns de nós alcançada em grandes e melhores centros não pudesse, por conta disso, dessa disparidade de consições, ser estendida a todas as Unidades do mundo. E como se não fosse possivel existir Unidades suficientes no mundo para todos nós. Somos a sobra. E assim, muitos de nós nascemos decretados à morte por simples descaso da humanidade. E olha que a história deve grandes passos de sua caminhada a homens que um dia nasceram prematuros as que o cuidado materno preservou para a vida: Einstein, Newton, Picasso, Darwin, Vitor Hugo... Se a humanidade sem eles seria tão mais triste, por que não investimos numa humanidade com todos nós, com uma humandade inteira?
Respeito.
Inadmissivel perceber que as pessoas falam alto nas UTIs como se as UTIs fossem a casa delas, não nossa.
Como se cuidar de nosso cérebro em desenvolvimento (foi assim que aprendemos com a tia Raquel Tamez) não tivesse a haver com falar baixo e causar menos barulho e menos dano, perturbar menos nosso sono, impedir menos nosso repouso...
Nossos cuidadores precisam respeitar nossa dor e trabalhar para não causa-la a cada agulhada entre as interminaveis colates de exames muitas vezes protocolares que atendem cada vez mais às necessidades deles e não às nossas.
A luz nas UTIs não precisava ser tão forte nem ser forte o tempo inteiro. Precisamos de um pouco de penumbra. Preservar noss sono, como humanos. A ciencia não já determinou que é no sono que nosso cérebro se reorganiza e registra aprendizados e memória? Se já inventaram a luz de cortesia para os onibus por que não as utilizam em nosso favor?
As equipes que cuidam da gente precisam saber como conversar conosco, mas para isso precisam entender as coisas que dizemos com nossas mãos, com nossos olhos, com nossa boca, com nossas perninhas, com nossos dedinhos, com nossos pés... Pecisam entender quando dizemos: preciso ficar sozinho ou quando chamamos: fica aqui comigo. Precisam aprender quando cansamos. Precisam entender quando dizemos: voce não acha qe está exagerando? Precisam nos proteger do cansaço, da fadiga, da exaustão...
Somos impedidos do contato com o seio materno sob alegações que graças a Deus muitos serviços já provaram serem descabidas. Muitos de nós somos afastados da primeira experiencia com o seio materno até que completemos 34 semanas ou atinjamos 1800 ou 2000 gramas. Abandonam nossa boca. Nossa possibilidade de sucção é reduzida. Mas não se acanham de nos oferecer através de sondas, gazes, tubos e outras geringonças um sem numero de experiencias orais negativas e desestabilizadoras.. Felizmente muitos de nós ja temos contato com a mama da mamãe (que é mamãe porque nos oferece a mama, ne?) com pesos proximos a 1200 gramas e é ai que aprendemos a sugar para que possamos, depois dai, aprendermos a mamar...
Exigmos respeito.
Ter nossas vidas salvas mesmo sob condiçôes de muito empenho e dedicação não pode ser o argumento para nos transformar em refens silenciosos de um tratamento que não cuida de observar nossa individualidade, de nos reaproximar de nossa mãe, de nossa familia, de nos tratar de modo contingente e ajustado...
Ah...
É por conta disso que exigimos respeito.
Há pouco mais de 30 anos na Colombia os tios Hector e Edgar Rey mostraram ao mundo como amamos nossas mães e como seu calor, seu amor e o leite de seu peito são essenciais pra nosso crecimento saudável.
Há pouco mais de tres decadas alimentamos, 13 milhões a cada ano no mundo, a esperança de permanecer vivos além da bioquimica e cuidados além da farmacologia.
Exigimos respeitos.
Somos bebês que nasceram antes da hora do que era pra ser.
Não somos outra espécie de gente. Somos humanos. Temos direitos inalienávis e inegociaveis que são trocados e esmagados a cada entubação ou a cada necessidade de dobutamina ou de coleta de serie branca, glicose e cálcio.
Exigimos respeito.
Um respeito que é nosso por direito.
Um respeito universal.
Um respeito que faz parte da Lei de Deus.
Obrigado.

Um bebe nascido prematuramente, integro nas suas capacidades de atenção e interação e digno de ser em todos os lugares e sem distinção reconhecido como pessoa diante da lei.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Declaração Comentada


Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro – Edição Comentada
Lançada em 2009 durante as comemorações brasileiras dos 30 anos do Método Mãe Canguru, a Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro é formada de 12 artigos que buscam fazer uma leitura ampliada do bebê nascido prematuramente, afirmando a necessidade de um apoio social à essa grave intercorrência que segundo dados da OMS acomete mais de 13 milhões de nascimentos por ano.
O seu lançamento revelou grande aceitação por parte dos profissionais e uma unissonoridade em relação a esses direitos humanos inegociáveis aplicados ao nascimento prematuro.
São 12 artigos que passam pelo nascimento respeitoso, chegam ao aleitamento materno passando pela tecnologia respeitosa com o equilíbrio do bebê e tocam a família e a importância de seu envolvimento nesse cuidado.
Ao perceber a necessidade de aprofundamento de cada um desses 12 artigos, convidamos profissionais das mais diversas áreas da atividade do cuidado e pais prematuros que ofereceram sua contribuição em forma de relatos, possibilitando uma experimentação da vivencia prematura o mais ampliada possível, do cuidador ao entorno do ser que é cuidado, desopacificando a visão segmentar e meramente clinica, bioquímica e farmacológica com que aprendemos a lidar com a prematuridade.
Nasceu então a edição comentada.
12 artigos escritos em 19 linguas: português, inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, russo, árabe, hebraico, chinês, japonês, kikongo, um idioma índio brasileiro (macro-je, falado pela tribo carajá), indi, panjabi, tailandês, húngaro, dinamarquês e turco, permeados com fotos, desenhos, páginas coloridas delicadamente ilustradas, poemas, belíssimos comentários das mãos de mais de 40 colaboradores entre profissionais, gestores, especialistas em direito e comoventes depoimentos maternos, acondicionados em um volume impresso em em papel 90 g no formato  21x21cm, com dupla capa (supremo 250 g) ,num total de 188 páginas, esta é a Declaração Comentada.
Da Colômbia participa o Dr Hector Martinez, criador do Método Mãe Canguru. Da Argentina, a Presidente da APAPREM, Andrea Dolce. Amigos de Portugal, Espanha, Estados Unidos, Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina... Tem-se a impressão de que o mundo inteiro se une em nome da causa prematura, da ampliação do cuidado, da valorização da presença materna, da contingencia, da gentileza, do respeito.  
Esperamos contribuir para o fortalecimento da consciência da necessidade de ampliação do envolvimento da família no cuidado com o bebe, da sensibilização do profissional para a leitura do bebê além de sua bioquímica e do cuidado para além da farmacologia.
Seja benvindo a essa Declaração Comentada.

Luis Alberto Mussa Tavares
Pediatra.
Organizador do volume.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quem cuida das mães de UTI?

Vivemos dias incríveis.
Bebes nascidos com pesos cada vez menores são a cada dia beneficiados pela tecnologia das Unidades de Terapia Intensiva Neonatais.
Profissionais cada vez mais bem capacitados se utilizam de técnicas cada vez mais afinadas para garantir sua sobrevivência. É como se estivéssemos vivendo o milagre da tecnologia, onde não há limites, onde o impossível não apavora e a impossibilidade é vencida a cada desafio, tornando-se um verbete sem uso, uma ideia desnecessária.
Vivemos dias fantásticos.
Bebês que há algumas décadas não tinham esperança de sobreviver, voltam para suas casas muitas vezes após passarem meses em UTIs Neonatais e recebem da ciência uma nova chance de vida.
Bebês cuidados pelas UTIs Neonatais, cada vez mais necessárias.
E os números são impressionantes: 13 milhões de nascimentos prematuros por ano, sendo 11 milhões deles na África e na Ásia.
Aproximadamente 10% dos nascidos vivos em nosso município são prematuros ou nascem com baixo peso.
Uma nova sociedade nascida do progresso da ciência.
Há um pensamento oriental que diz que por menor que seja uma pedra, ela tem sempre dois lados.
Que grande verdade.
Envolvida com o tratamento do bebe, a tecnologia não percebeu uma pergunta que não se respondia:
Quem cuida das mães de UTI?
Quem percebe sua dor? Quem se importa com ela?
Que Unidade as envolve no cuidado com seu filho?
Quem se envolve com sua família? Com sua desestrutura?
E muitas mães se perguntam, por conta disso: “A UTI cuida dos nossos filhos. Mas quem cuida de nós?”.
Mergulhadas num grande vazio formado pelas duras regras de funcionamento das UTIS, pelo estabelecimento das normas de visita (como se mães deixassem de ser mães e passassem a ser visitas de seus filhos), pela falta de acomodação necessária para permitir o conforto de sua presença ao lado de seus filhos e muito também por sua dor não acolhida, causada pela crise da internação e dos procedimentos em uma Unidade Neonatal, por tudo isso, as mães prematuras formam, sem perceber, o grupo humano mais negligenciado em toda a história da saúde no mundo através dos tempos.
Frágeis, mal conseguem caminhar de casa até as UTIs que cuidam de seus filhos, localizadas em andares muitas vezes distantes da entrada do Hospital.
Tristes, não recebem tempo de escuta e acolhimento suficientes pela equipe de saúde já assoberbada com as inúmeras atividades da rotina hospitalar.
Enfraquecidas, tem sua dor potencializada muitas vezes por determinações medicas inegociáveis como suspensão de visitas ou impossibilidade de amamentação...
Subtraídas daquele que pela lei natural dos acontecimentos deveria ser seu direito mais elementar: o mátrio poder...
Uma cidadela formada por cidadãs diminuídas pela dor, desassistidas pela rotina necessária, desamparadas pelo sistema.
São as mães de UTI. Quem cuida delas?
Durante centenas de milhares de anos foram as mães as primeiras cuidadoras de seus filhos.
No inicio do século passado eram frequentes os relatos dos bebês que cresceram “na caixinha de sapato” cuidados por suas mães.
A Neonatologia moderna de alguma forma, como outro lado da moeda, afastou a mãe do cuidado com seus filhos. Os bebês de UTI vivem hoje longe de suas mães. A UTI cuida deles. Delas não.
A sociedade como um todo precisa acordar para este fato: é necessário cuidar das mães de UTI. Das mães desmaternizadas pela técnica, enfraquecidas pela dor, diminuída pela solidão, pelo medo, pela culpa e pela ameaça que cerca a vida de seus filhos e desestrutura seu coração.
Por uma Casa de Apoio à Mãe de UTI em Campos.
Onde mães possam receber carinho, apoio, acolhimento.
Onde possam aprender a cuidar de seus filhos, onde possam perceberem-se cuidadas em sua dor.
Onde possam comer, dormir, refugiarem-se nos dias cinzentos, regozijarem-se nos dias de luz e cor...
Por uma Casa de Apoio à Mãe de UTI em Campos.
Porque um bebê sozinho não existe. Existe um bebê e sua mãe. Assim falou Winnicott.