quarta-feira, 1 de novembro de 2017

O contato com o seio

Estimulando o contato com o seio

Uma vez esclarecido que contato não é sucção, estimular contato não significa por o bebê pra sugar. Aproximar o bebê do seio. Permitir o toque da mama pelas mãos do bebê. Permitir ao bebê sentir o cheiro da mama, escutar a sonoridade materna, permitir ao bebê até, porque não, abocanhar o mamilo ainda que seja somente para experimentar este gesto... Isto é estimular contato com o seio. Com o seio que ele deverá sugar. Não há pré-requisitos para este procedimento. Não carece de estabilidade clinica. Não obedece a parâmetros de habilidade de sucção. Contato é apenas contato. Visual. Tátil. Olfativo. Oral. Estimular o contato com o peito é como apontar o caminho. A natureza se incumbe de garantir a caminhada ao destino.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A rima

A rima tentou falar comigo, eu nem vi,
Eu nem prestei atenção,
Ela veio atrás de mim, eu nem senti,
Deixei a rima com a cara na mão,

A rima insistiu e me pediu, eu não ouvi,
Para que eu deixasse ela falar, mas não,
Eu fui deselegante e foi ai
Que a rima foi-se embora. Que situação.

Agora eu fico aqui arrependido,
E dá um medo de ficar perdido:
Fazer versos sem rimas não tem graça nenhuma...

Da próxima vez vou tomar mais cuidado
(Quem é que não gosta de ser bem tratado?)

E fazer de tudo pra que ela não suma...

domingo, 22 de outubro de 2017

A história de Amanda, Rogerio e Maria Vitória

“Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração”,

Rubem Alves


Hoje vamos conhecer a história de Maria Vitória e de seus pais Amanda e Rogerio.

Há pouco mais de um ano Maria nasceu de parto prematuro extremo.

Do mesmo modo como acontece com todas as nossas mães, orientamos a Amanda que retirasse seu leite diariamente para oferecer a sua pequena Maria que naqueles primeiros instantes não sugaria no seio mas poderia se alimentar com o leite materno oferecido por sondinha.

Assim foi feito.

Amanda, mesmo morando longe, em outro município distante mais de 50 quilômetros de Campos, comparecia diariamente à UTI sempre acompanhada de Rogerio para que pudessem acompanhar sua filha e Amanda pusesse retirar seu leite, muito importante para a bebê.

Foi uma longa e lenta e exaustiva jornada, mas impressionava toda equipe o comportamento colaborativo e gentil dos pais durante todo o processo.

Amanda e Rogerio atravessavam 50 quilômetros diariamente para estar perto de sua bebê e para oferecerem carinho e leite materno.

E não era pouco leite.

Era leite do tamanho do amor de seus pais pela pequena e da gratidão da pequena por seus pais.

O início, como qualquer início, foi previsível.

Amanda e Rogerio compareciam diariamente à UTI, Amanda tirava seu leite que ia para a pequena Maria e essa cena se repetia várias vezes e sempre diariamente.

O tempo, imperdoável, foi seguindo seu rumo.

Em sua longa jornada na UTI, na sua luta para sobreviver, Maria apresentou graves complicações neurológicas, respiratórias e infecciosas que a mantiveram sob cuidado da UTI Neonatal por vários meses.

Estava cada vez mais evidente que a pequena Maria não sugaria no peito da Amanda como resultado de sua condição clinica delicada.

Mas Amanda, aparentemente alheia a essa improvável possibilidade, seguia marcando horários na sala de coleta do leite e fazendo pela Maria o que estava a seu alcance: oferecendo seu leite.

Eram ordenhas diárias de grande volume.

Várias vezes por dia.

Incansáveis.

Dedicação incondicional.

Lembro me que uma vez Amanda me procurou dizendo que sua produção de leite estava diminuindo. Queria ajuda. Um medicamento que melhorasse sua produção. Nessa época Maria já contava com 4 meses. Já havia sofrido cirurgias de alívio para a lesão  neurológica. Fazia crises. Ficava quase o tempo todo sob assistência respiratória. Mas antes que meus raciocínios miseráveis me questionassem por que Amanda ainda se esforçasse para oferecer seu leite a um bebê com tantas outras necessidades vitais, felizmente meu coração escutou seu coração materno e sem questionar ajudou aquela mãe extremada a seguir seu caminho de doar se em leite ainda por mais alguns meses para aquele pedaço gigante de seu coração que cada um de nos chamávamos de Maria.

Poderíamos aqui traduzir em números quantos meses duraram essas coletas e quantos litros de leite Amanda retirou para sua pequena Maria, sempre apoiada pelo Rogerio.

Mas traduzir em números seria muito pouco para entender o que aconteceu entre Maria e Amanda e Rogerio.

E o que aconteceu foi que tecnicamente Amanda percebeu desde muito cedo que sua pequena Maria não sugaria no peito.

Amanda percebeu desde muito cedo que a condição clinica de Maria era extremamente grave, risco de vida eminente.

Amanda percebeu desde cedo que as possibilidades de melhora do quadro sempre se mostravam muito remotas.

Mas Amanda, mesmo sem primavera do lado de fora, mesmo cercada de seca e de incerteza, em nenhum momento deixou de viver uma linda e exuberante primavera em seu coração.

Amanda e Rogerio foram pais escolhidos a dedo pelas bênçãos de Deus para cuidar da pequena Maria.

O que se seguiu é que Maria recebeu leite materno por muitos meses, e com leite materno, carinho, imunidade, proteínas, força e desenvolvimento.

Amanda e Rogerio são preciosos símbolos de pais que, mesmo quando não há motivos para mostrarem-se otimistas devido às condições clinicas graves de sua filha, provam que a esperança sempre tem terreno para florescer.

Hoje Maria está em casa.

Hoje Rogerio e Amanda guardam a paz no coração por estarem sendo o melhor para sua bebê, sua família.

A história de Rogerio, Amanda e Maria é um exemplo de dedicação e possibilidade.

É um exemplo de presença e força da esperança mesmo quando o otimismo não encontra forças para subsistir.

Pedi a querida Amanda para contar aqui sua história.

Com a delicadeza e a serenidade de sempre, Amanda aceitou ter sua história divulgada para dar força a outras Amandas, muitas vezes tristes, muitas vezes sem motivos para acreditar, muitas vezes cansadas e extenuadas de uma UTI que parece sugar nossas forças e esmorecer nossa fé.

Que a história de Amanda, Rogerio e Maria possa alimentar esperanças em nossos corações.

Dedico esse relato à pequena Maria e aos seus pais.

E a nossas mãezinhas amadas, seus pares e seus bebês.

Deus esteja conosco hoje e sempre.


Luis Tavares

UTI Neonatal Nicola Albano

22 de outubro de 2017

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O contato do bebê com o peito...



Simples assim: estimular o contato, 
A mãe e o filho em seu colo, frente a frente, 
O cheiro, a temperatura, a cor, o tato, 
E uma mãe contente, e um bebê contente... 

Simples assim, como se fosse o contrato 
De um vínculo que vai durar eternamente, 
Eliminando de uma vez o hiato 
De uma mãe ausente, de um bebê ausente... 

Estimular o contato: a mãe, o filho, 
A mesma vocação, o mesmo trilho, 
A mesma vontade, a mesma direção... 

Estimular o contato... E não precisa mais nada, 
A natureza, sempre que bem cuidada, 
Toma conta da sua própria proteção... 

domingo, 8 de outubro de 2017

O piquenique

Poema comemorativo dedicado ao encontro de mães vitoriosas da UTI Neonatal Nicola Albano e de seus pequenos guerreiros em 23 de maio de 2015 que aconteceu no CEPAP, Campos dos Goytacazes, RJ, quando elas por iniciativa própria fizeram um lindo piquenique para marcar seu reencontro.


Era uma vez uma mãe,
Que encontrou outra mãe,
Que havia combinado com uma mãe,
Que conhecia outra mãe,
Que era amiga de uma mãe,
Que havia conversado com outra mãe,
Que tinha recebido mensagens de uma mãe
Contando que outra mãe teve uma ideia
Que era uma ideia realmente muito chique:
Vamos nos juntar para fazer um piquenique?

Foi aí que Alessandra combinou com Kele,
Levarem, juntas com Luana e Daniele,
Uma cesta de sanduíches de alegria,
Enquanto Fabiana procurou Geovana,
E após conversarem com Rosana,
Se encontraram com a outra Fabiana
E garantiram alguns cookies de simpatia.

Marcela ligou pra Isabela,
Que avisou pra Noelia,
Que comentou com Natalia,
Que conhecia uma padaria
Que preparava gotinhas de otimismo todo dia...

Grazyela e Tatyla levariam pãezinhos
Recheados de carinhos,
Já Antenora, umas broas,
E Thayná, pastinha de coisas boas...
Alessanda, um bulinho de achocolatado.
Flávia, um bolinho de amor redobrado,
Karina, cupkakes de felicidade,
Kelly, empadinhas de amor de verdade,
Veronica, um pratinho de mulher guerreira,
Debora, um potinho de garra brasileira...
  
Um piquenique de mães,
Ceio de paz,
Mas não seriam somente as iguarias
As responsáveis por suas alegrias
Naquele piquenique combinado.
Olha só quem também era esperado:

Bianca e Leticia,
Que delicia,
E também Maria Rita, moça bonita,
Maria Cecilia, que maravilha,
E mais Pedro e Noah, que coisa boa,
E olha que irado:
Matheus, Eduardo e Bernardo
Que nem são levados,
E a lista não para:
Lara e Sara, felicidade rara,

E eu acho que ouvi
Que Heitor e Davi
Ficaram de ir,
E para não haver escarcéu
Trariam Ruan e Miguel,
E Anthony e Samuel,
Que são como anjinhos do céu,
Isso e que é
Uma festa de arromba:
Davi e Amanda,
Completando a banda,
Lara e Isabela para ficar na janela,
E um dia feliz pra Mayte e Beatriz.

Um piquenique
De mães e filhos,
Filhos da mesma superação
Um piquenique de mães e filhos,
Que pareciam irmãos.
Um piquenique
De mães e filhos,
Cantando a mesma canção,
Nas mesmas vozes...
Um piquenique
De mães e filhos
Que mereciam dias felizes.
  
Depois daquele dia,
Pelo que se sabe,
Essas mães e esses filhos
Nunca mais se afastaram,
Perceberam que formavam
Uma grande família,
Não pelo berço em que eles nasceram,
Mas pela história comum
Que atravessaram.
Uma história comum,
Mas incomum,
Que mães e filhos,
Juntos,
Superaram.

Era uma vez uma mãe,
Que se identificou com outra mãe,
Que havia se conhecido uma mãe,
Que sabia de outra mãe,
Amiga de uma mãe,
Que havia consolado uma outra mãe,
Que tinha recebido força de outra mãe,
Que chegou à seguinte conclusão:

Ser mãe
Do jeito que cada uma de nós fomos,
Passando pelo que nós passamos,
Vivendo os dias que nós vivemos,
Enfrentando os medos que nós enfrentamos,
Arriscando tudo que nós arriscamos,
Conhecendo de perto a dor que conhecemos,

Fez com que a gente se tornasse mãe
De uma forma que a gente não conhecia,
Mistura de incertezas com certezas,
Mistura boa da fé de quem confia,
Tendo a força de Deus por garantia,
Tendo seus anjos em nossa companhia,

Era uma vez uma mãe,
E outra mãe,
Mas na verdade
Acho que era não,
Uma mãe e outra mãe e outra mãe,
Quando se juntam,
São como se fossem um só coração.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

O leite de peito não vaza

É muito comum o uso da expressão "meu leite está vazando"
Ela remete imediatamente a imagem de mamas encharcando a roupa da nutriz, como bem cabe a uma expressão auto explicativa, que dispensa legendas.
Se a gente tentar entender as coisas como elas são, vamos concluir que o gás de cozinha vaza quando o botijão está mal vedado, que a água do balde vaza quando ele está rachado e que se o cano vaza significa que ele está com defeito em suas juntas e conexões.
Mas é o leite materno? Será que ele vaza quando a mama está rachada, quando ela está muito cheia ou quando está apresentando algum defeito no seu papel de guarda do leite? Seria adequado pensar no leite vazando da mama como se pensa em um apartamento do andar de cima vazando para o apartamento do andar de baixo?
Quando se diz que a mama vaza pode se entender que ela o faz assim como o copo cheio ou como o balde rachado?
Na verdade dizer que a mama vaza chega a ser um exagero ou mais exatamente um erro. E isso por uma única e definitiva razão: a mama não vaza.
Dizer que mamas não vazam pode parecer uma afirmativa falsa.
Mas vejamos:
É coração materno quando está tranquilo ou em paz o principal responsável por acionar um mecanismo hormonal neurológico e muscular que espreme os minúsculos saquinhos localizados na mama, saquinhos onde o leite está armazenado esperando ser sugado, e nessa expressão expulsa o leite que jorra e escapa pela mama como numa explosão de alegria da mesma forma que a lava jorra de um vulcão  ou que o jato de espuma  jorra da garrafa durante as comemorações de fim de ano, e como resultado dessa contração o leite vai expulso da mama como um grito líquido que traduz a prontidão materna para a amamentação.
Mas não é o leite superficial e próximo da saída da mama o que essa força do bem estar materno expulsa gerando o que erroneamente chamamos de vazamento do leite. As estruturas mais profundas do interior da mama são contraídas com tanta intensidade para trazer o leite das camadas mais distantes para o exterior que muitas vezes nessa força incomparável as mamas chegam a fisgar, revelando a intensidade e amplitude desse reflexo e mostrando sua complexidade e o envolvimento de várias estruturas para sua execução.
O leite materno não vaza simplesmente como um gás ou como um leite que ultrapassa a borda do canecao.
O leite que escapa da mama é certamente a forma concreta do mais belo poema materno escrito sem precisar de palavras mas que poderia se chamar felicidade.
  

sábado, 9 de setembro de 2017

Alice e seu livrinho...


Eu preparo uma canção silenciosa
De um silencio que quase cause inquietação,
Escrita sem palavra, inútil e dispendiosa,
Num idioma de pura percepção,

Eu preparo uma canção minuciosa,
Quase inaudível, mas sem desatenção,
Composta de arquitetura cuidadosa,
Delicadamente elaborada... Uma canção

Que faça acordar os homens poderosos
Para o poder dos gestos silenciosos
E para a força das palavras mansas...

Uma canção que se espalhe aos quatro ventos,
Que faça acordar os homens desatentos,
E adormecer as crianças...