quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Declaração Comentada


Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro – Edição Comentada
Lançada em 2009 durante as comemorações brasileiras dos 30 anos do Método Mãe Canguru, a Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro é formada de 12 artigos que buscam fazer uma leitura ampliada do bebê nascido prematuramente, afirmando a necessidade de um apoio social à essa grave intercorrência que segundo dados da OMS acomete mais de 13 milhões de nascimentos por ano.
O seu lançamento revelou grande aceitação por parte dos profissionais e uma unissonoridade em relação a esses direitos humanos inegociáveis aplicados ao nascimento prematuro.
São 12 artigos que passam pelo nascimento respeitoso, chegam ao aleitamento materno passando pela tecnologia respeitosa com o equilíbrio do bebê e tocam a família e a importância de seu envolvimento nesse cuidado.
Ao perceber a necessidade de aprofundamento de cada um desses 12 artigos, convidamos profissionais das mais diversas áreas da atividade do cuidado e pais prematuros que ofereceram sua contribuição em forma de relatos, possibilitando uma experimentação da vivencia prematura o mais ampliada possível, do cuidador ao entorno do ser que é cuidado, desopacificando a visão segmentar e meramente clinica, bioquímica e farmacológica com que aprendemos a lidar com a prematuridade.
Nasceu então a edição comentada.
12 artigos escritos em 19 linguas: português, inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, russo, árabe, hebraico, chinês, japonês, kikongo, um idioma índio brasileiro (macro-je, falado pela tribo carajá), indi, panjabi, tailandês, húngaro, dinamarquês e turco, permeados com fotos, desenhos, páginas coloridas delicadamente ilustradas, poemas, belíssimos comentários das mãos de mais de 40 colaboradores entre profissionais, gestores, especialistas em direito e comoventes depoimentos maternos, acondicionados em um volume impresso em em papel 90 g no formato  21x21cm, com dupla capa (supremo 250 g) ,num total de 188 páginas, esta é a Declaração Comentada.
Da Colômbia participa o Dr Hector Martinez, criador do Método Mãe Canguru. Da Argentina, a Presidente da APAPREM, Andrea Dolce. Amigos de Portugal, Espanha, Estados Unidos, Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina... Tem-se a impressão de que o mundo inteiro se une em nome da causa prematura, da ampliação do cuidado, da valorização da presença materna, da contingencia, da gentileza, do respeito.  
Esperamos contribuir para o fortalecimento da consciência da necessidade de ampliação do envolvimento da família no cuidado com o bebe, da sensibilização do profissional para a leitura do bebê além de sua bioquímica e do cuidado para além da farmacologia.
Seja benvindo a essa Declaração Comentada.

Luis Alberto Mussa Tavares
Pediatra.
Organizador do volume.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quem cuida das mães de UTI?

Vivemos dias incríveis.
Bebes nascidos com pesos cada vez menores são a cada dia beneficiados pela tecnologia das Unidades de Terapia Intensiva Neonatais.
Profissionais cada vez mais bem capacitados se utilizam de técnicas cada vez mais afinadas para garantir sua sobrevivência. É como se estivéssemos vivendo o milagre da tecnologia, onde não há limites, onde o impossível não apavora e a impossibilidade é vencida a cada desafio, tornando-se um verbete sem uso, uma ideia desnecessária.
Vivemos dias fantásticos.
Bebês que há algumas décadas não tinham esperança de sobreviver, voltam para suas casas muitas vezes após passarem meses em UTIs Neonatais e recebem da ciência uma nova chance de vida.
Bebês cuidados pelas UTIs Neonatais, cada vez mais necessárias.
E os números são impressionantes: 13 milhões de nascimentos prematuros por ano, sendo 11 milhões deles na África e na Ásia.
Aproximadamente 10% dos nascidos vivos em nosso município são prematuros ou nascem com baixo peso.
Uma nova sociedade nascida do progresso da ciência.
Há um pensamento oriental que diz que por menor que seja uma pedra, ela tem sempre dois lados.
Que grande verdade.
Envolvida com o tratamento do bebe, a tecnologia não percebeu uma pergunta que não se respondia:
Quem cuida das mães de UTI?
Quem percebe sua dor? Quem se importa com ela?
Que Unidade as envolve no cuidado com seu filho?
Quem se envolve com sua família? Com sua desestrutura?
E muitas mães se perguntam, por conta disso: “A UTI cuida dos nossos filhos. Mas quem cuida de nós?”.
Mergulhadas num grande vazio formado pelas duras regras de funcionamento das UTIS, pelo estabelecimento das normas de visita (como se mães deixassem de ser mães e passassem a ser visitas de seus filhos), pela falta de acomodação necessária para permitir o conforto de sua presença ao lado de seus filhos e muito também por sua dor não acolhida, causada pela crise da internação e dos procedimentos em uma Unidade Neonatal, por tudo isso, as mães prematuras formam, sem perceber, o grupo humano mais negligenciado em toda a história da saúde no mundo através dos tempos.
Frágeis, mal conseguem caminhar de casa até as UTIs que cuidam de seus filhos, localizadas em andares muitas vezes distantes da entrada do Hospital.
Tristes, não recebem tempo de escuta e acolhimento suficientes pela equipe de saúde já assoberbada com as inúmeras atividades da rotina hospitalar.
Enfraquecidas, tem sua dor potencializada muitas vezes por determinações medicas inegociáveis como suspensão de visitas ou impossibilidade de amamentação...
Subtraídas daquele que pela lei natural dos acontecimentos deveria ser seu direito mais elementar: o mátrio poder...
Uma cidadela formada por cidadãs diminuídas pela dor, desassistidas pela rotina necessária, desamparadas pelo sistema.
São as mães de UTI. Quem cuida delas?
Durante centenas de milhares de anos foram as mães as primeiras cuidadoras de seus filhos.
No inicio do século passado eram frequentes os relatos dos bebês que cresceram “na caixinha de sapato” cuidados por suas mães.
A Neonatologia moderna de alguma forma, como outro lado da moeda, afastou a mãe do cuidado com seus filhos. Os bebês de UTI vivem hoje longe de suas mães. A UTI cuida deles. Delas não.
A sociedade como um todo precisa acordar para este fato: é necessário cuidar das mães de UTI. Das mães desmaternizadas pela técnica, enfraquecidas pela dor, diminuída pela solidão, pelo medo, pela culpa e pela ameaça que cerca a vida de seus filhos e desestrutura seu coração.
Por uma Casa de Apoio à Mãe de UTI em Campos.
Onde mães possam receber carinho, apoio, acolhimento.
Onde possam aprender a cuidar de seus filhos, onde possam perceberem-se cuidadas em sua dor.
Onde possam comer, dormir, refugiarem-se nos dias cinzentos, regozijarem-se nos dias de luz e cor...
Por uma Casa de Apoio à Mãe de UTI em Campos.
Porque um bebê sozinho não existe. Existe um bebê e sua mãe. Assim falou Winnicott.