sábado, 8 de setembro de 2012

Texto final do documentário "Os dias de UTI"

Os dias de UTI são longos, lentos ,solitários....
São dias em que a tecnologia asfixia o afeto e isso os torna tristes demais
E frios demais.
Os dias de UTI seguem assim: dolentes...
Filhos dolorosos gemem por suas mães, por seus colos...
Mães dolorosas gemem por seus filhos...

Quem cuida das mães de UTI
Que esperam por seus filhos, assustadas?
Quem toma-lhes as mãos, frágeis e tremulas?
Quem seca-lhes as lágrimas sentidas?
Quem abranda-lhes as feições apavoradas,
E as suas noites de sono mal dormidas,
E os seus dias inteiros, pensativas,
E as suas horas inteiras, angustiadas?

Quem cuida das mães de UTI
Que oram por suas crianças internadas?
Quem descobre seus medos escondidos?
Quem compreende suas culpas descabidas?
Quem dá voz às suas vozes paralisadas?
E os seus corações que mal se aguentam,
Quem ouve, quem entende, quantos tentam?
Quem dá colo a sua dor desfigurada?

É chegada a hora em que as fronteiras do atendimento neonatal necessitam escapar dos limites frios que cercam as UTIS e tocar o coração materno dolorido e as necessidades da família despedaçada, reformatando a dor e reconstruindo a esperança, onde as aflições sejam apoiadas e percebidas e uma vez percebidas, consoladas. E a aflição consolada, se não dói menos, dói melhor porque dói sem destruir nem sufocar a esperança e a vida.
 
Recriar esses dias de dor imensa, para que novas prioridades e novas rotinas possam conviver em santa harmonia com a tecnologia e a farmacologia que a partir desse momento nunca mais se perceberão frias, transformando de uma vez e para sempre os longos, lentos, solitários e tristes dias de UTI.

Luís Alberto Mussa Tavares

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