terça-feira, 1 de novembro de 2011

Exigimos respeito

 

Somos, segundo a OMS, mais de 13 milhões a cada ano.
Isso é alguma coisa perto de 10% de todos os bebês nascidos vivos no planeta.
Desses 13 milhões, 1 milhão de nós não consegue sobreviver e morre por condições inadequadas de atendimento.
A maioria de nós chega ao mundo pelos paises de economia frágil: Asia e Africa.
Ali também é que a maior parte de nós não sobrevive.
Aqui no Brasil temos crescido em numero de nascimentos a cada ano.
Somos pequeno um país dentro de um país.
Um pequeno país de exilados de suas familias.
Confinado a casas de acrilico e a um ambiente exageradamente tratador.
Ao lado das aminas salvadoras, recebemos excessivos luz, som, dor, manipulação, falta de sono, privação do amor, do calor e do leite materno...
Sabemos que esse exilio cruel é decretado em nome de nossa cura.
E temos consciencia de que o esforço das equipes de saude para garantir nossa sobrevivencia tem sido surpreendente e essencial.
é cada vez mais certa a certeza de que retornamos para o colo de nossas mães e para o seio de nossas familia sobrevivendo a pressagios de morte certa e às previsões mais pessimistas...
Somos imensamente gratos à ciencia que tem nos permitido estar aqui, salvos do caos gerado por um nascimento fora de época, antes do que era para ser...
Mas hoje queremos nesse manifesto juntar nossos frageis corações e nossa delicada saude num esforço ultra humano e dizer para o mundo que nos cuida, nos cataloga, nos cochraneia e nos transforma em teses de mestrado, doutorado, artigos, livros, entrevistas e reportagens pelo mundo afora:
Exigimos respeito.
Nossas mães, enfraquecidas, não tem permissão para estar em nossa companhia pelo tempo inteiros que ambos precisamos.
Muitas das UTIS para onde nos confinam não tem sequer espaço para recebe-las.
Chamam de UTI Neonatal como se nós, neonatos, fossemos independentes de nossas mães e como se nossas vidas não pecisasse da delas para crescer com harmonia e integraldade.
E sequer destinam recursos para garantir vagas para muitos de nós nessas UTIs. Muitas mrtes correm por socorro insuficiente. Por condição tecnica insuficiente. Por pessoal insuficiente. Somos assim, por esse descaso oficial, tratados como supérfluo, como sobra. Sobreviver é lucro, não essencial. Como se a vitória de uns de nós alcançada em grandes e melhores centros não pudesse, por conta disso, dessa disparidade de consições, ser estendida a todas as Unidades do mundo. E como se não fosse possivel existir Unidades suficientes no mundo para todos nós. Somos a sobra. E assim, muitos de nós nascemos decretados à morte por simples descaso da humanidade. E olha que a história deve grandes passos de sua caminhada a homens que um dia nasceram prematuros as que o cuidado materno preservou para a vida: Einstein, Newton, Picasso, Darwin, Vitor Hugo... Se a humanidade sem eles seria tão mais triste, por que não investimos numa humanidade com todos nós, com uma humandade inteira?
Respeito.
Inadmissivel perceber que as pessoas falam alto nas UTIs como se as UTIs fossem a casa delas, não nossa.
Como se cuidar de nosso cérebro em desenvolvimento (foi assim que aprendemos com a tia Raquel Tamez) não tivesse a haver com falar baixo e causar menos barulho e menos dano, perturbar menos nosso sono, impedir menos nosso repouso...
Nossos cuidadores precisam respeitar nossa dor e trabalhar para não causa-la a cada agulhada entre as interminaveis colates de exames muitas vezes protocolares que atendem cada vez mais às necessidades deles e não às nossas.
A luz nas UTIs não precisava ser tão forte nem ser forte o tempo inteiro. Precisamos de um pouco de penumbra. Preservar noss sono, como humanos. A ciencia não já determinou que é no sono que nosso cérebro se reorganiza e registra aprendizados e memória? Se já inventaram a luz de cortesia para os onibus por que não as utilizam em nosso favor?
As equipes que cuidam da gente precisam saber como conversar conosco, mas para isso precisam entender as coisas que dizemos com nossas mãos, com nossos olhos, com nossa boca, com nossas perninhas, com nossos dedinhos, com nossos pés... Pecisam entender quando dizemos: preciso ficar sozinho ou quando chamamos: fica aqui comigo. Precisam aprender quando cansamos. Precisam entender quando dizemos: voce não acha qe está exagerando? Precisam nos proteger do cansaço, da fadiga, da exaustão...
Somos impedidos do contato com o seio materno sob alegações que graças a Deus muitos serviços já provaram serem descabidas. Muitos de nós somos afastados da primeira experiencia com o seio materno até que completemos 34 semanas ou atinjamos 1800 ou 2000 gramas. Abandonam nossa boca. Nossa possibilidade de sucção é reduzida. Mas não se acanham de nos oferecer através de sondas, gazes, tubos e outras geringonças um sem numero de experiencias orais negativas e desestabilizadoras.. Felizmente muitos de nós ja temos contato com a mama da mamãe (que é mamãe porque nos oferece a mama, ne?) com pesos proximos a 1200 gramas e é ai que aprendemos a sugar para que possamos, depois dai, aprendermos a mamar...
Exigmos respeito.
Ter nossas vidas salvas mesmo sob condiçôes de muito empenho e dedicação não pode ser o argumento para nos transformar em refens silenciosos de um tratamento que não cuida de observar nossa individualidade, de nos reaproximar de nossa mãe, de nossa familia, de nos tratar de modo contingente e ajustado...
Ah...
É por conta disso que exigimos respeito.
Há pouco mais de 30 anos na Colombia os tios Hector e Edgar Rey mostraram ao mundo como amamos nossas mães e como seu calor, seu amor e o leite de seu peito são essenciais pra nosso crecimento saudável.
Há pouco mais de tres decadas alimentamos, 13 milhões a cada ano no mundo, a esperança de permanecer vivos além da bioquimica e cuidados além da farmacologia.
Exigimos respeitos.
Somos bebês que nasceram antes da hora do que era pra ser.
Não somos outra espécie de gente. Somos humanos. Temos direitos inalienávis e inegociaveis que são trocados e esmagados a cada entubação ou a cada necessidade de dobutamina ou de coleta de serie branca, glicose e cálcio.
Exigimos respeito.
Um respeito que é nosso por direito.
Um respeito universal.
Um respeito que faz parte da Lei de Deus.
Obrigado.

Um bebe nascido prematuramente, integro nas suas capacidades de atenção e interação e digno de ser em todos os lugares e sem distinção reconhecido como pessoa diante da lei.

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